Exposição no CCBB RJ destaca importância e riqueza dos manguezais
Com fotografias de Norte a Sul do Brasil, o oceanógrafo, ambientalista e fotógrafo Enrico Marone retrata os manguezais como ambientes repletos de riquezas ecológicas, culturais e econômicas, confrontando um imaginário coletivo que já considerou esses ecossistemas como marginalizados, sujos e fedidos. O trabalho faz parte da mostra Manguezal, que chegou na última quarta-feira (29) ao Centro Cultural Banco do Brasil no Rio de Janeiro (CCBB-RJ) e recebe visitantes gratuitamente até 2 de fevereiro de 2026.

“Essa exposição cumpre um pouco esse papel de trazer para mais perto das pessoas a informação da riqueza que esses ambientes representam. São ambientes únicos, muito importantes”, analisou Marone, em entrevista à Agência Brasil. “Hoje, está mudando a chave. É um momento importante e disruptivo para o reconhecimento dos mangues”.
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O projeto da exposição, que tem curadoria de Marcelo Campos e produção de Andrea Jakobsson Estúdio, partiu do livro homônimo, o quinto volume da Coleção Década do Oceano (2021–2030), idealizada e produzida em parceria com a Cátedra Unesco do Instituto Oceanográfico da USP e ilustrada pelo fotógrafo Enrico Marone.
Depois de percorrer manguezais em diversas partes do país, o fotógrafo considera que projetos que incluem a participação de comunidades locais e de pescadores começam a mudar a percepção da sociedade sobre esses ecossistemas.
“Não eram reconhecidos e eram aterrados para construções. Não tinham o valor que hoje a gente reconhece. A função ecológica dos mangues não é só a questão da vida e da pesca, mas o manguezal tem uma infinidade de atribuições ecológicas. As raízes filtram nutrientes, e os sedimentos que vêm dos rios e dos estuários. O manguezal protege a costa contra erosão e tempestades, porque ele protege contra ondas e invasão do mar”, indicou.
Ele também aponta que ganhou espaço a constatação de que esses ambientes são muito importantes para o combate às mudanças climáticas.
“O manguezal sequestra e armazena muito carbono. Por ele reter, principalmente nos seus sedimentos, na lama, um ambiente com pouco oxigênio, ele não decompõe o carbono, que fica aprisionado na lama por muito tempo. Então, ele é um sumidouro de carbono. Os pesquisadores dão umas cifras de que os manguezais retêm entre quatro e cinco vezes ,mais carbono que outras florestas tropicais. O manguezal tem papel muito importante para mitigar a crise climática. Por isso, são chamados de ecossistemas de carbono azul, nova denominação da ONU”, relatou.
Além da sustentabilidade climática, Marone aponta a importância socioeconômica dos mangues para as copmunidades, já que o ciclo de vida de muitas espécies que são pescadas e sustentam comunidades de pescadores e pescadoras nascem no manguezal, que é um berçário de vida, não só de caranguejos, mas de muitos peixes que são pescados ao longo da costa.
“Eles se reproduzem nos manguezais. Então, os manguezais são muito importantes para a manutenção da biodiversidade e sustentam cadeias importantes de pescadores, que dependem desses ambientes saudáveis para a sua manutenção, sua própria sobrevivência, mas também para a geração de renda deles”, apontou o fotógrafo.
Curadoria
A curadoria de Marcelo Campos mescla múltiplas linguagens e gerações de artistas, com cerca de 50 obras de 25 nomes fundamentais da arte brasileira.
“Durante a exposição, a gente vai ver artistas de performance, que mergulham nos mangues para produzir as suas performances a partir disso, e, ao mesmo tempo, vai ouvir as Ganhadeiras de Itapuã, cantando o mangue. Isso faz com que a gente tire [de nosso imaginário] a impressão errônea dos manguezais”, disse Marcelo Campos, em entrevista à Agência Brasil.
Assim como Enrico Marone, que se encantou com esse ecossistema, o manguezal é destaque no trabalho de artistas, como o do modernista Lasar Segall, que retratou a antiga zona de mangue no Rio de Janeiro, região central na formação do samba e do urbanismo carioca. Outro foi Hélio Oiticica, que ressignificou o mangue em seus jogos linguísticos, unindo mangue e bangue em crítica à violência urbana. Os dois também estão na mostra.
A exposição conta ainda com trabalhos de outros artistas que têm o mangue como inspiração: Ygor Landarin, Lucélia Maciel, Azizi Cypriano, Almir Lemos, Aislane Nobre, Gabriella Marinho, Abelardo da Hora, Ayrson Heráclito, Carybé, Celeida Tostes, Marcel Gautherot, Frans Post, Maureen Bisilliat, Marcone Moreira, Uýra Sodoma e Ganhadeiras de Itapuã.
“É curioso e muito bacana de ver reunidas diversas vertentes artísticas, tendo sempre como eixo central o mangue, inspirando diferentes linguagens artísticas”, disse Marone, completando que se sente extremamente honrado de participar e contribuir com artistas dessa ordem de grandeza.
Carnaval
O carnaval também está presente na mostra e deve despertar grande interesse do público. Gabriel Haddad e Leonardo Bora, que até este ano eram carnavalescos da Grande Rio, são os autores de uma instalação baseada nas caruanas, seres encantados que habitam os manguezais e presentes na mitologia indígena brasileira.
“Logo que vi o desfile da Grande Rio, em 2025, vi um carro [alegórico] sobre as caruanas. Imediatamente, liguei para os carnavalescos, que eu conheço, e pedi para guardar o carro, porque iria precisar. A grande coincidência é que, quando a Grande Rio anuncia o enredo do carnaval de 2026, também vai ser um carnaval dedicado aos manguezais. Então, nós juntamos os dois carnavais. Vamos trazer quatro fantasias inéditas para o carnaval de 2026, desenhadas pelo Antônio Gonzaga [atual carnavalesco da Grande Rio]”, contou o curador Marcelo Campos.
A Manguezal é uma realização do Ministério da Cultura, do CCBB RJ e da MaisArte, patrocinada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Instituto Prio, com copatrocínio da TGS e apoio da EnvironPact, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, a chamada Lei do ISS.
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